Mais um ano em que os LGBTT passarão sem uma proteção legal. O PLC 122 que seria discutido dia 08 de dezembro foi adiado para 2012, após a senadora e relatora do projeto, Marta Suplicy - PT/SP, constatar que a votação daria empate e a proposta de lei não seria aprovada.
Com o atraso na votação surgem algumas dúvidas: por que um projeto que garante a proteção de 10% da população, que é torturada psicologicamente ou fisicamente quase todos os dias, não foi aprovado? O que faz grande parte dos políticos tratarem o assunto com descaso, esquecendo uma minoria que deveria ser protegida pela lei?
Muitos vídeos foram divulgados na internet sobre a discussão mostrando os argumentos da oposição e as respostas dos que defendem o projeto (vide link com declarações da senadora Marinor Brito - PSOL/PA - e do senador Magno Malta - PR/ES). No entanto, o que ainda me surpreendeu foi o editorial do jornal Folha S. Paulo publicado hoje, três dias após a reunião da comissão para tratar do PLC 122.
Antes de realizar qualquer comentário sobre o editorial, segue o texto na íntegra porque o texto está disponível no site apenas para assinantes:
Com o atraso na votação surgem algumas dúvidas: por que um projeto que garante a proteção de 10% da população, que é torturada psicologicamente ou fisicamente quase todos os dias, não foi aprovado? O que faz grande parte dos políticos tratarem o assunto com descaso, esquecendo uma minoria que deveria ser protegida pela lei?
Muitos vídeos foram divulgados na internet sobre a discussão mostrando os argumentos da oposição e as respostas dos que defendem o projeto (vide link com declarações da senadora Marinor Brito - PSOL/PA - e do senador Magno Malta - PR/ES). No entanto, o que ainda me surpreendeu foi o editorial do jornal Folha S. Paulo publicado hoje, três dias após a reunião da comissão para tratar do PLC 122.
Antes de realizar qualquer comentário sobre o editorial, segue o texto na íntegra porque o texto está disponível no site apenas para assinantes:
Preconceito em pauta (Editorial)
Penas impróprias, concessões equivocadas e descaso com a liberdade de expressão prejudicam proposta de lei no Senado contra a homofobia
Não são fato isolado as recentes e repetidas agressões contra gays em plena avenida Paulista, suposto centro de modernidade e cosmopolitismo na cidade de São Paulo. Segundo entidades de defesa dos direitos de homossexuais, cresce o número de assassinatos motivados por homofobia no Brasil.
Não são fato isolado as recentes e repetidas agressões contra gays em plena avenida Paulista, suposto centro de modernidade e cosmopolitismo na cidade de São Paulo. Segundo entidades de defesa dos direitos de homossexuais, cresce o número de assassinatos motivados por homofobia no Brasil.
É justificável, portanto, a aprovação de uma lei específica para coibir tal comportamento. Há dez anos foi proposto, na Câmara dos Deputados, um projeto nesse sentido. Aprovado em 2006, está sob exame no Senado Federal. Deveria ter sido votado nesta quinta-feira, na Comissão de Direitos Humanos da Casa. Não foi.
Temendo derrota na comissão, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) decidiu retirar para reexame o parecer em que, apesar de concessões à bancada religiosa, defendia a aprovação da lei.
Por mais que fossem significativos os acenos da senadora a evangélicos e católicos, seria, de fato, difícil contentar um tipo de mentalidade como a de seu colega Magno Malta (PR-ES), que identifica na lei contra a homofobia um passo para a criação de um "império HOMOSSEXUAL" no país.
Na verdade, as tentativas de conciliação promovidas no texto da parlamentar petista mais serviram para estimular do que para mitigar o obscurantismo dos seus adversários - além de realçar equívocos da proposta.
O projeto original tendia a coibir qualquer manifestação de pensamento contrário ao homossexualismo. Nesse sentido, feria um direito constitucional tão básico quanto o da escolha do comportamento sexual: o da liberdade de opinião.
Por mais que fossem significativos os acenos da senadora a evangélicos e católicos, seria, de fato, difícil contentar um tipo de mentalidade como a de seu colega Magno Malta (PR-ES), que identifica na lei contra a homofobia um passo para a criação de um "império HOMOSSEXUAL" no país.
Na verdade, as tentativas de conciliação promovidas no texto da parlamentar petista mais serviram para estimular do que para mitigar o obscurantismo dos seus adversários - além de realçar equívocos da proposta.
O projeto original tendia a coibir qualquer manifestação de pensamento contrário ao homossexualismo. Nesse sentido, feria um direito constitucional tão básico quanto o da escolha do comportamento sexual: o da liberdade de opinião.
O parecer da senadora tentou excluir do crime de homofobia o que chamou de "manifestação pacífica de pensamento decorrente da fé e da moral". Transparece, nessa fórmula, o desajeitado salvo-conduto que se pretendia conceder a líderes religiosos.
Mas a questão, obviamente, não é de fé nem diz respeito apenas aos pregadores desta ou daquela igreja. Pode-se ter opiniões contrárias ao homossexualismo por outras razões, que não cabe à lei discriminar nem coibir.
Com efeito, a homofobia deve ser punida nos casos de injúria, de agressão, de discriminação, ou seja, quando palavras se transformam em ações concretas de ataque. Não quando alguém apenas diz o que pensa sobre o assunto - sendo religioso ou não.
Com efeito, a homofobia deve ser punida nos casos de injúria, de agressão, de discriminação, ou seja, quando palavras se transformam em ações concretas de ataque. Não quando alguém apenas diz o que pensa sobre o assunto - sendo religioso ou não.
Também a proposta se engana ao estabelecer pena de prisão para atos discriminatórios, que deveriam ser objeto de sanções alternativas, no caso de o transgressor não representar ameaça física à sociedade. Não faz sentido, por exemplo, trancafiar por três anos num presídio -provavelmente superlotado- quem, por preconceito, tenha tentado dificultar a contratação de um HOMOSSEXUAL numa empresa ou órgão público.
O projeto, sem dúvida, está a exigir ajustes. É de esperar que o adiamento da votação propicie a oportunidade de realizá-los.
Após ler o editorial fiquei decepcionada com tanta falta de informação publicada em um jornal reconhecido mundialmente. Destaco dois trechos que merecem esclarecimento:
"O projeto original tendia a coibir qualquer manifestação de pensamento contrário ao homossexualismo".
Sem entrar no mérito do uso errôneo do termo 'homossexualismo' mas apenas falando do significado da frase. Em momento algum e em nenhuma das três versões exibidas do PLC 122 a pessoa é considerada criminosa por ser contra a homossexualidade. O indivíduo torna-se criminoso quando prejudica outro por causa da sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Não faz sentido, por exemplo, trancafiar por três anos num presídio -provavelmente superlotado- quem, por preconceito, tenha tentado dificultar a contratação de um HOMOSSEXUAL numa empresa ou órgão público.
Quando se considera uma pessoa menos capaz para determinado trabalho por ser gay, este alguém está agindo de maneira preconceituosa sim e essa atitude precisa ser combatida. Orientação sexual não tem nada a ver com capacidade profissional ou caráter. Classificar alguém como incapaz para uma tarefa por ser homossexual é homofobia.
Com esse editorial percebe-se que o preconceito está muito mais enraizado do que podemos notar. São em pequenas ações e comentários que os ditos liberais comentem graves erros. Parece que a cada momento fica mais longe a justiça para as minorias, tornando-se mais difícil para a uma enorme parcela do Brasil entender que ser lésbica, gay, travesti, bissexual ou transexual não é pecado ou muito menos doença, é apenas ser o que realmente é.