sábado, 18 de dezembro de 2010

Meninas são mais corajosas?



Olá!!

Tem textos que dizem tudo o que a gente pensa mas não sabia como explicar. O ensaio abaixo foi assim comigo e  acredito que vai ser com muitas leitoras. Bem, chega de trololó, vou postá-lo aqui e quem gostar deixe um comentário!


Meninas São Mais Corajosas?


Blog maedefilhogay.blogspot.com

É inegável que meninas têm uma certa liberdade em expressar afeto desde a infância. Diferente dos  garotos que, ao primeiro sinal de carinho com outro menino, são fortemente reprimidos, quase  ninguém vê perigo em duas meninas que são melhores amigas e passam horas ao telefone. Também não existe tanta repressão a beijos e abraços amigáveis ou dormirem juntas no quarto de uma delas. O medo dos pais é maior da nossa proximidade com o sexo oposto. Daí que você pode pensar que meninas lésbicas têm menos pressão na hora de se assumir. Mentira.

Sim, existe um certo fetiche dos homens em ver duas mulheres transando, mas esse fetiche não tem relação com aceitação ou desejo. A maioria dos homens quando fala desse fetiche tem uma visão muito machista: as duas meninas estão se divertindo enquanto o macho não entra! E quando ele entrar, claro, elas irão preferi-lo. Essa tolerância é na verdade uma desqualificação do relacionamento lésbico: elas só são lésbicas por que não encontraram o homem certo.Daí que tudo bem duas meninas andando de mãos dadas no shopping. Tudo bem que elas “brinquem” de ser lésbicas, por que uma hora o homem certo vai aparecer e “corrigir” isso. Deixe as meninas se divertirem. Na cabeça desses homens não é algo para ser levado a sério, elas vão se “consertar” em algum momento e talvez eles até deem uma ajudazinha. O mesmo homem que reage com ojeriza a relação entre gays se diz tolerante a relações lésbicas numa linha de raciocínio torta, onde o machismo é o denominador comum. Homens não podem ser penetrados, por que isso é ceder sua posição de macho dominante, não podem se submeter a outro homem. Então, na cabeça torta desse machista, a relação lésbica não passa de uma brincadeira, já que nenhuma penetração acontece (na cabeça deles, of course).
Claro que todo esse raciocínio torto vai ruir se as meninas em questão não forem fortemente
femininas...de novo, na versão dele de femininas. Uma lésbica masculinizada (eu odeio o termo tanto quanto odeio afeminado, mas...) é um desafio à posição do macho. É uma afronta a ele. E ai a tolerância voa pela janela. E o preconceito que essas meninas enfrentam é tão ou maior que os afeminados. É um desafio à estrutura patriarcal. Veja bem, além de não se curvar às vontades do macho, ela ainda quer ter comportamentos só reservados a ele!

E eu me pergunto de onde vem a coragem e me encanto com a disposição dessas meninas em enfrentar isso. Em exigir seus direitos e partir para a luta. Elas estão nos shoppings e praças marcando muito mais presença que os homens gays. Elas estão na luta pela adoção, pela fertilização assistida, pela reforma na educação. Elas estão saindo do armário e andando orgulhosas na rua. Elas estão apanhando do mundo, mas se recusam a baixar a cabeça. E ainda precisam ouvir que para elas é mais fácil! Não é. É toda uma luta contra a sociedade patriarcal e machista, exatamente como para os homens.

Eu acredito sim que existe uma certa “tolerância” a manifestações de afeto lésbico que não existe com os homens. Mas essa tal de tolerância não passa da introdução. Ela está restrita a uma minoria que parece “bonitinha” à vista e que é engolida pela sociedade. Lésbicas maduras andando de mãos dadas na rua ou se beijando em público, terão a mesma reação de desagrado que garotos gays sofrem. Meninas menos “femininas” são tão ou mais rejeitadas que afeminados. A diferença que eu vejo é que, mesmo assim, elas não tem mais medo de saber quem são.

Não quero aqui criar uma divisão a la clube do Bolinha, mas acho que gays e lésbicas estão em momentos diferentes no que diz respeito a essa visibilidade. Enquanto vejo um discurso machista de ser discreto e não dar bandeira, ganhar corpo entre os homens, vejo essas meninas partindo para a luta, não por uma falsa aceitação que só existe se você se enquadra nos moldes heteronormativos, mas por respeito e visibilidade. E amigo, só quem é mulher sabe como é complicado se impor nessa sociedade machista. É dose para leão. Negar-se a cumprir a missão de cuidadora e procriadora para os homens é uma afronta que eles não digerem bem.

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