domingo, 11 de dezembro de 2011

PLC 122 e o editorial da Folha de S. Paulo

Mais um ano em que os LGBTT passarão sem uma proteção legal. O PLC 122 que seria discutido dia 08 de dezembro foi adiado para 2012, após a senadora e relatora do projeto, Marta Suplicy - PT/SP, constatar que a votação daria empate e a proposta de lei não seria aprovada. 



Com o atraso na votação surgem algumas dúvidas: por que um projeto que garante a proteção de 10% da população, que é torturada psicologicamente ou fisicamente quase todos os dias, não foi aprovado? O que faz grande parte dos políticos tratarem o assunto com descaso, esquecendo uma minoria que deveria ser protegida pela lei? 

Muitos vídeos foram divulgados na internet sobre a discussão mostrando os argumentos da oposição e as respostas dos que defendem o projeto (vide link  com declarações da senadora Marinor Brito - PSOL/PA - e do senador Magno Malta - PR/ES). No entanto, o que ainda me surpreendeu foi o editorial do jornal Folha S. Paulo publicado hoje, três dias após a reunião da comissão para tratar do PLC 122. 



Antes de realizar qualquer comentário sobre o editorial, segue o texto na íntegra porque o texto está disponível no site apenas para assinantes:


Preconceito em pauta (Editorial)

Penas impróprias, concessões equivocadas e descaso com a liberdade de expressão prejudicam proposta de lei no Senado contra a homofobia

Não são fato isolado as recentes e repetidas agressões contra gays em plena avenida Paulista, suposto centro de modernidade e cosmopolitismo na cidade de São Paulo. Segundo entidades de defesa dos direitos de homossexuais, cresce o número de assassinatos motivados por homofobia no Brasil.

É justificável, portanto, a aprovação de uma lei específica para coibir tal comportamento. Há dez anos foi proposto, na Câmara dos Deputados, um projeto nesse sentido. Aprovado em 2006, está sob exame no Senado Federal. Deveria ter sido votado nesta quinta-feira, na Comissão de Direitos Humanos da Casa. Não foi.

Temendo derrota na comissão, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) decidiu retirar para reexame o parecer em que, apesar de concessões à bancada religiosa, defendia a aprovação da lei.

Por mais que fossem significativos os acenos da senadora a evangélicos e católicos, seria, de fato, difícil contentar um tipo de mentalidade como a de seu colega Magno Malta (PR-ES), que identifica na lei contra a homofobia um passo para a criação de um "império HOMOSSEXUAL" no país.

Na verdade, as tentativas de conciliação promovidas no texto da parlamentar petista mais serviram para estimular do que para mitigar o obscurantismo dos seus adversários - além de realçar equívocos da proposta.

O projeto original tendia a coibir qualquer manifestação de pensamento contrário ao homossexualismo. Nesse sentido, feria um direito constitucional tão básico quanto o da escolha do comportamento sexual: o da liberdade de opinião.

O parecer da senadora tentou excluir do crime de homofobia o que chamou de "manifestação pacífica de pensamento decorrente da fé e da moral". Transparece, nessa fórmula, o desajeitado salvo-conduto que se pretendia conceder a líderes religiosos.

Mas a questão, obviamente, não é de fé nem diz respeito apenas aos pregadores desta ou daquela igreja. Pode-se ter opiniões contrárias ao homossexualismo por outras razões, que não cabe à lei discriminar nem coibir.

Com efeito, a homofobia deve ser punida nos casos de injúria, de agressão, de discriminação, ou seja, quando palavras se transformam em ações concretas de ataque. Não quando alguém apenas diz o que pensa sobre o assunto - sendo religioso ou não.

Também a proposta se engana ao estabelecer pena de prisão para atos discriminatórios, que deveriam ser objeto de sanções alternativas, no caso de o transgressor não representar ameaça física à sociedade. Não faz sentido, por exemplo, trancafiar por três anos num presídio -provavelmente superlotado- quem, por preconceito, tenha tentado dificultar a contratação de um HOMOSSEXUAL numa empresa ou órgão público.

O projeto, sem dúvida, está a exigir ajustes. É de esperar que o adiamento da votação propicie a oportunidade de realizá-los.


Após ler o editorial fiquei  decepcionada com tanta falta de informação publicada em um jornal reconhecido mundialmente. Destaco dois trechos que merecem  esclarecimento:


"O projeto original tendia a coibir qualquer manifestação de pensamento contrário ao homossexualismo".

Sem entrar no mérito do uso errôneo do termo 'homossexualismo' mas apenas falando do significado da frase. Em momento algum e em nenhuma das três versões exibidas do PLC 122 a pessoa é considerada criminosa por ser contra a homossexualidade. O indivíduo torna-se criminoso quando prejudica outro por causa da sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Não faz sentido, por exemplo, trancafiar por três anos num presídio -provavelmente superlotado- quem, por preconceito, tenha tentado dificultar a contratação de um HOMOSSEXUAL numa empresa ou órgão público. 
 Quando se considera uma pessoa menos capaz para determinado trabalho por ser gay, este  alguém está agindo de maneira preconceituosa sim e essa atitude precisa ser combatida. Orientação sexual não tem nada a ver com capacidade profissional ou caráter. Classificar alguém como incapaz para uma tarefa por ser homossexual é homofobia.

Com esse editorial percebe-se que o preconceito está muito mais enraizado do que podemos notar. São em pequenas ações e comentários que os ditos  liberais comentem graves erros.  Parece que a cada momento fica mais longe a justiça para as minorias, tornando-se mais difícil para a uma enorme parcela do Brasil entender que ser lésbica, gay, travesti, bissexual ou transexual não é pecado ou muito menos doença, é apenas ser o que realmente é.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Homofobia poderá ser crime perante a lei

Professor universitário de filosofia e homossexual assumido,  
Alessandro Faria Araújo, espancado em 2007 por 10 pessoas


Projeto que defende os direitos LGBTT será votado no início de dezembro, sendo que os apoiadores da proposta poderão deixar recados por telefone e e-mail aos senadores que participarão da votação


O professor Alessandro Faria Araújo (foto acima) foi espancado após sair de uma festa GLS, em São Paulo. Na hora de recorrer a justiça, a vítima ficou praticamente de mãos atadas, pois não existe uma lei específica contra homofobia. Por enquanto não existe. Para resolver casos como esse, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal e Legislação Participativa votarão a PLC 122  Lei  Alexandre  Ivo, que criminaliza o preconceito de sexo, identidade de gênero e orientação sexual, no dia 8 de dezembro. O novo código visa proteger qualquer pessoa vítima de homofobia, inclusive heterossexuais - como foi o caso do pai que teve a orelha decepada por ser confundido com um gay ao abraçar o filho. 


Ações como demitir um funcionário por ser transexual, expulsar uma cliente de uma loja por ser travesti ou recusar prestar um serviço público a alguém por ser gay serão alguns dos casos que poderão se tornar crime perante a lei.


 
O nome do projeto é em homenagem ao jovem de 14 anos Alexandre Ivo (foto acima), sequestrado e torturado por três horas até a morte em 2010. O motivo do assassinato, segundo os três agressores, foi pelo fato de Alexandre ser gay. O caso repercutiu nacionalmente e virou um marco para intensificar a luta pelo direito de proteção a minorias.

Os dados mostram que a violência sofrida pelo adolescente não foi uma tragédia isolado no país. O Grupo Gay da Bahia confirma por meio de pesquisas que o Brasil foi campeão mundial de assassinatos contra LGBTT no ano passado. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos - com 100 milhões de habitantes a mais que o Brasil, foram registrados 14 assassinatos de travestis, enquanto aqui foram documentados 110 homicídios. Isso quer dizer que o risco de um(a) travesti ser assassinado(a) no Brasil é 785% maior que nos EUA. Uma das vítimas deste ano foi uma travesti na Paraíba, que foi assassinada a facadas no meio da rua, como mostra o vídeo abaixo:


  
A realidade nas escolas também não é diferente da vivida na sociedade. Em 2002, a Unesco fez entrevistas com 5 mil professores no Brasil para o projeto intitulado “Perfil dos Professores Brasileiros” que revelou, entre outras coisas, que 59,7% dos educadores consideram inadmissível que uma pessoa tenha relações homossexuais e que 21,2% deles tampouco gostariam de ter vizinhos gays.

A homofobia registrada pelas pesquisas é praticada impunemente. A estudante Adriele Camacho, por exemplo, foi mais uma presa do preconceito que teve grande repercussão na mídia nesse ano. A adolescente (foto abaixo) foi morta pelo sogro e cunhado a facadas porque os dois eram contra o romance entre ela e a namorada.


    Adriele  Camacho, de 16 anos, foi assassinada 
  pelo pai e o irmão da namorada
  
Crimes como o ocorrido com Adriele não possuem uma legislação que os puna. São agressões verbais e físicas contra gays, bissexuais, lésbicas, transexuais e travestis  cometidos diariamente. Com a aprovação da PLC 122, 10% da população brasileira poderá ter uma proteção legal, uma maneira de se defender desse preconceito contra uma minoria tão pouco lembrada pela lei e brutalmente massacrada pela ignorância alheia. 

Para obter mais informações sobre a lei clique aqui


Trajetória

O projeto de Lei da Câmara 122 é uma proposta exigida há 10 anos por integrantes e apoiadores do movimento LGBTT. No entanto, nesse período ela passou por modificações devido a exigências de grupos políticos conservadores.

Para ajudar os senadores na votação, os interessados podem ligar gratuitamente de qualquer aparelho para o Alô Senado no número 0800 61 22 11. Pelo telefone é possível deixar um  recado  para os  políticos que participarão da votação (os nomes estão na listagem ao fim da matéria), explicando o porquê a PLC 122  Lei  Alexandre  Ivo precisa ser aprovada. A argumentação também pode ser feita por meio do site da Ouvidoria do Senado. Os contatos de cada senador estão disponíveis aqui.

Confira quem irá participar da votação:

PRESIDENTE: Senador Paulo Paim
VICE-PRESIDENTE: Senadora Ana Rita
Ana Rita(PT)
Angela Portela(PT)
Anibal Diniz(PT)
Cássio Cunha Lima(PSDB)
Clovis Fecury(DEM)
Cyro Miranda(PSDB)
Cristovam Buarque(PDT)
Eduardo Amorim(PSC)
Eduardo Suplicy(PT)
Eunício Oliveira(PMDB)
Garibaldi Alves(PMDB)
Gim Argello
Lídice da Mata(PSB)
Humberto Costa(PT)
José Agripino(DEM)
João Alberto Souza
Marta Suplicy(PT)
Marinor Brito
Mozarildo Cavalcanti
Paulo Paim(PT)
Paulo Davim(PV)
Pedro Simon(PMDB)
Randolfe Rodrigues
Ricardo Ferraço(PMDB)
Vicentinho Alves
Wellington Dias(PT)

domingo, 24 de julho de 2011

Inédita escalada da violência - por Luiz Caversan


O jornalista Luiz Caversan, da Folha de S. Paulo, opinou sobre as barbáries contra integrantes do LGBT - inclusive heterossexuais confundidos com gays - e as compara com as lutas medievais. "Um garoto quase fica cego na avenida Paulista agredido com uma lâmpada fluorescente, um rapaz perde os dentes na porta de uma boate por causa de um soco inglês, outro é esfaqueado sem nem saber de onde nem porque, agora aparece este 'caçador de orelhas'. O que mais?". Pois é Carvesan, dá medo fazer a pergunta "quando vai acabar?", porque a resposta às vezes parece ser: "nunca".

E ele diz mais: "Se ainda não existe um movimento consistente, maduro e efetivo contra as barbaridades que se cometem em nome do 'eu não gosto do jeito que você leva sua vida' é porque somos acomodados, para não dizer acovardados, na ideia arcaica de que afinal este é o velho e bom país da cordialidade. Balela". Esses são trechos do texto "Homofobia é crime, sim, e basta", que pode ser conferido neste link.

Nada como sentir na pele- parte 2: "cansei de ser celebridade"

“O ser humano é sádico e cruel, e coisifica, descarta o próximo, tudo sob a hégide de uma suposta “liberdade””(Dorothy Lavigne)



(em memória de Amy Winehouse e de tantos outros seres humanos que jamais chegarei a conhecer e admirar)



Nunca fui fã da Amy, ou de qualquer outra “diva” da musica POP internacional. Meu lado “crica musical” nunca me permitiu admirar este tipo de arte e sou da opinião que a “boa musica” é como um bom vinho- quanto mais velho, melhor. Mas não vim aqui falar de música, vim falar sobre seres humanos, vim falar sobre dor e sobre violência.

Quem tem acompanhado este blog deve se lembrar do artigo que escrevi denunciando uma agressão física de motivação transfóbica que sofri a pouco mais de 2 meses. Em suma, pude observar o que para mim já era evidente: a inoperância da policia- até hoje o BO que fora registrado no 1º DP não chegou ao 3ºDP, e as nossas “queridas” autoridades ficaram jogando a bomba uma no colo da outra este tempo todo. Desisti de ver qualquer um dos agressores punido. Ate porque minha experiência como militante me ensinou que de nada adianta punir um ou outro “pitboy”, enquanto estiverem a solta Bolsonaros e Malafaias.

Mas vou falar agora de outro tipo de agressão, aquela que é tão invisível que nem os próprios agressores percebem-na como tal. Este vai ser um desabafo e um puxão-de-orelha.

Recentemente estive presente num encontro do movimento estudantil, espaço no qual pude perceber o quanto as pessoas me prestigiam, onde pude me dirigir à platéia na qualidade de “transexual militante”. A mesma oportunidade tive na Marcha das Vadias ao denunciar, como já de costume, a intransigência e a fiscalização policialesca das Identidades de Gênero, colocadas em pratica pelo SUS, através do Processo Transexualizador.Pois bem, pesa-me dizer que tal exposição da minha pessoa está me fazendo muito mal.

Quando fui espancada naquela triste noite, não cheguei a sentir tanta dor como alguns poderiam imaginar, ou como sentiram os colegas que passaram pela mesma experiência. Estava internamente “dopada” pela dor e achei que do ponto de vista subjetivo, foi dos males o menor. Algumas semanas antes escrevera para o mesmo blog uma Carta de Amor que poucas pessoas leram e ninguém comentou- e mesmo as que leram não entenderam. Afinal, qual a importância para defesa dos direitos LGBT de um@ militante reclamar da falta de carinho, da solidão, e meramente revindicar o mesquinho direito de se apaixonar e de sonhar- mesmo sem ser correspondida?

Talvez para a maioria dos que me lêem agora isto seja algo sem valor. Para mim, não. Cada um sabe onde dói e este é e sempre foi meu ponto-fraco. Para quem sente na pele o pesadelo da fome o sonho-de-cada-dia é um prato de comida. Para pessoas mal-amadas e solitárias (e não tenho mais medo de me assumir como tal) são os episódios felizes e de romântico companheirismo, beijos, abraços, quem sabe, talvez sexo com a pessoa amada. Como já afirmara em outra ocasião, para grande parte da população TTT, o companheiro, o amante é o cliente- num país onde celebridades pegas saindo com travestis vão a publico se desculpar afirmando que aceitaram o programa achando que eram mulheres e onde piadinhas com transex são consideradas socialmente aceitáveis.

O mais revoltante é que sempre vai haver um psicólogo ou um defensor das “virtudes libertárias” contemporâneas para nos culpar pela suposta baixa “auto-estima”, ou coisas piores. Para os colegas de militância que ainda não entenderam, minha fala não era uma denuncia e sim, um pedido de socorro.

Voltando a minha fala sobre a recente morte da cantora Amy, cuja obra não apreciava, mas cuja triste historia acabou por me sensibilizar, revolta-me ouvir que ela teria morrido de overdose. Ninguém morre por causa das drogas, simplesmente pelo mesmo motivo que ninguém as utiliza meramente por prazer, mas sim, para enganar a dor. Provavelmente (e isso é uma possibilidade) precisava se “dopar” porque não agüentava mais rolar na cama a noite e perceber que, apesar de todo paparico dos fãs e das perseguições dos paparazzi,não havia a quem abraçar, não conseguiria sentir calor humano. Mas “subjetividade e solidão não dão IBOPE e queremos ver sangue”.

Ontem quando voltava para casa dos meus passeios noturnos vi uma cena que me deixou extremamente perplexa. Um dos amigos que me defenderam no outro dia, estava se distanciando da turma e o que corria é que ele estaria indo cortar o próprio braço para concentrar a dor psicológica criando um ferimento físico, pois tinha acabado de ver um ex-namorado com outro. Ninguém quis socorrê-lo, fomos cúmplices pois entendemos que era a forma que a pessoa tinha de lidar com o próprio sofrimento. Quanto a mim eu jamais teria esta coragem, mas sinceramente ainda acho preferível este tipo de auto-ajuda a um psicólogo fazendo lavagem cerebral na cabeça das pessoas, culpabilizando-as pela própria dor, afinal para grande parte desses profissionais a nossa sociedade é sempre perfeita e as pessoas simplesmente não têm o direito de serem tristes. Algo muito terrível aconcetece com nossa sociedade e nossos jovens e ninguem quer ver.

O que eu queria mesmo era que as pessoas parassem de me reduzir a uma simples “militante” um “objeto político”, ou alguém que escreve bons textos num blog . Não sou isso, alias, me vejo como uma pessoa extremamente egoísta que só consegue se indignar quando o problema me atinge diretamente. Queria que não tivessem me dito que sou a “mulher mais forte que conheço” quando me dou ao luxo de, num momento de fraqueza, “reginaldorossiar”, me embebedar para poder colocar para fora as minhas lagrimas presas a meses. Queria que não tivessem me dito que sou “o orgulho da delegação de Curitiba”. O orgulho não vai preencher meu coração, enquanto abraço o ar a procura de um corpo que está a centenas de quilômetros de distância e que é feito de pura saudade e desejos que talvez nunca se concretizem. Queria ter o direito de me olhar no espelho e me ver como sou: uma pessoa desprezível, fraca. medíocre e rejeitada pelos meus pares. Sinceramente, trocaria se pudesse cada vão elogio por um beijo ou um abraço daquel@ a quem amo, solitariamente, e com quem ainda sonho.

Quanto a pessoa amada, aquela@ a quem tinha escrito a tal Carta de Amor, recebi mais um “não”, mais uma vez não me seria dada a oportunidade de levar adiante um bela história de amor, algo que sempre sonhei e nunca pude ter. mas aprendi que na vida quando caímos só temos uma opção que é de levantar e continuar. No fundo a tal pessoa, a quem continuo amando a minha maneira, até não me tratara tão mal, considerando outras tentativas nas quais as pessoas simplesmente saíam correndo ao perceber minha condição de “trans”. Acho que realmente uma pessoa que tenha tido tal honestidade sem se afastar é digna da minha sincera amizade, a qual tenho a mais sincera vontade de continuar cultivando. Mas sempre será coisa da minha cabeça, uma dor menor (como se mede isso?), sempre haverão comparações infelizes a serem feitas.

Em suma, prego que de nada adianta fazer frente contra a discriminação e contra a opressão, seja ela qual for, se não se (re)humanizar as pessoas. De nada adianta aplaudir belas frases classistas se não temos coragem de abraçar os companheiros, mesmo que não entendamos seu sofrimento. É um erro pensar que não há opressão fora da luta de classes, ou fora da denuncia do machismo, por exemplo. Se você acha que violência só existe quando sangra, sinto muito, você é tão cruel e perverso quanto qualquer um dos “pitboys” que atacam vitimas indefesas nas nossas ruas escuras.

A TEMPO: O texto acima se refere a uma "fase" da minha vida, da qual venho tirando varias experiências, as quais faço questão de dividir com os leitores e amigos. Em breve Doth Lavigne com seu senso-de-humor e seu otimismo habituais. obrigada pelo carinho e torçam por mim.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vídeos da Marcha das Vadias

Olá pessoal que acompanha o Além da Parada. Como prometido, estou postando alguns vídeos de vários momentos da Marcha das Vadias, que aconteceu no último sábado, em Curitiba. Perdoem-me por não conseguir editar os vídeos e uni-los em um só, infelizmente o Premiere e eu não estamos nos acertando nos últimos dias. Bom "cinema"!


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sou vagabunda, eu confesso

 
Para mim, a Marcha das Vadias começou em casa. Como dizem, sou uma pessoa de gosto simples para roupas, sempre usando calça jeans, camisa e tênis fuleiro. Mas a marcha pedia mais de mim, mais feminina, mais tchan e, por isso, coloquei uma saia preta curtíssima cobrindo a cinta-liga, com uma regata branca, com uma sapatilha: um look básico. No entanto, já em casa, a minha mãe começou com as prevenções: “Mayara, vão mexer com você na rua”, “você não vai sair de cinta liga!”, “coloca outra roupa!”. O que eu fiz? Abri o portão e enfrentei o vendaval de Curitiba.

“Se o Papa fosse mulher,

Se o Papa fosse mulher,
Se o Papa fosse mulheeeeeer,
O aborto seria legal,
Seria legal e seguro,
Seria legal e seguro”.

Após cantadas na rua e olhares de revés cheguei no Passeio Público onde um grupo de pessoas erguia cartazes, folhas, banners com dizeres como “Meu corpo, minhas regras” ou “Por prazer ou por profissão, sexo não é um convite à violência” levantando os papéis em direção a um céu azul de manhã de sábado. Lá estavam homens, mulheres, jovens, velhos, integrantes do LGBTH (o H também, por que não?), desocupados, espectadores, feministas, punks (tinha todo tipo de gente desfilando em meio aos flashs).

"Sim.

Eu sou vadia,
O imposto me come todo dia"

O carro de som ia guiando o pessoal da praça da Mulher Nua (nome adquirido pela Praça 19 de dezembro durante a Marcha das Vadias), até o Largo da Ordem, depois até o Praça Generoso Marques e, no fim, na Boca Maldita. A cada parada da longa e glamourosa caminhada, representantes de instituições e movimentos de defesa e proteção dos direitos humanos falavam sobre respeito e direito à liberdade usufruir a vida como quiser. O presidente da ABGLT, Toni Reis, esteve no comecinho do evento parabenizando a marcha e defendendo a existência de políticas públicas de respeito.  "Como disseram aqui, 'Feminismo para frente e o machismo para trás', porque a homofobia é causada pelo machismo, sim", segundo Toni Reis – e segundo eu, também, pois concordo plenamente com esse comentário.

“Ôooô, piada de salão,

Maconha é proibida, mas homofobia não”

De todas as falas sobre todos os direitos a que mais me tocou foi a sobre racismo, pronunciada por uma representante do movimento dos negros, que no final da fala aplacou todas as mulheres. “Mulheres negras, mulheres brancas, mulheres polacas, que carregam latas d’água, carregam a roupa, carregam a casa, carregam os filhos, carregam a culpa do mundo. Sabe? Vamos tirar essa culpa do mundo, gente. Nós estamos aqui para sermos felizes”. Porque, afinal, a cada 24 segundos uma mulher é espancada nas terras tupiniquins.  Até quando as mulheres serão ditas e tidas como responsáveis pelos crimes que vivenciam? O que vestem, com quem andam, com quem namoram, não são sinais verdes para estupro físico ou verbal - ainda mais que, como dizia uma das marchinhas, "o corpo é da mulher, ela dá para quem quiser".


Pode dizer que é frescura, que a mulher já ganhou mais do que perdeu desde que queimaram sutiãs em praça pública. A única coisa que tenho a declarar é que quando voltei para casa, eu em meus trajes de vadia simples, fui parada por um cara no tubo de ônibus. “Moça, eu pago (a passagem) para você”, “Não precisa, muito obrigada”. Rodei a catraca e ele parou ao meu lado, “Eu pago para você”. Saí de perto dele, ele voltou, ele disse “eu pago” se aproximando do meu rosto. A vontade era perguntar, “vai pagar o que?”, mas o receio da resposta era maior. Bem, que pena que ele não estava na marcha. Perdeu uma grande lição sobre respeito à mulher – e a ele mesmo.

Fotos por Mayara  

Para o próximo post teremos alguns vídeos da marcha. Até logo! 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sessão Pinkpoca: paródia de música hironiza lei homofóbica no Tennessee


O  Sessão Pinkpoca de hoje apresenta uma paródia da música "Song The Lazy", do Bruno Mars. O cantor da nova versão, Sean Chapin, fala da lei discriminatória "Não Diga Gay" do estado do Tennessee, nos Estados Unidos. A determinação legal proibiria a discussão de assuntos envolvendo temas LGBT e  famílias homoafetivas nas escolas de ensino fundamental e médio no estado. Para assistir ao vídeo clique aqui.





segunda-feira, 11 de julho de 2011

Luisa Marilac X caricatura LGBT

A travesti Luisa Marilac tornou-se diva do cômico, um ano após lançar  um vídeo no YouTube contando casualidades enquanto nadava em uma piscina na Europa. Os erros de português e o jeito escrachado da Marilac, fez com que Fernando Albuquerque publicasse na revista O Grito! uma crítica quanto às ações de Luisa, opinando que ela  incentivou a caricatura das travestis e reafirmou o preconceito contra o movimento LGBT.
"Se ela embalsama seu discurso no sonho de ser “aceita”, comete aí o seu primeiro pecado capital. Luisa consegue aceitação quando empunha (talvez de forma inconsciente) a bandeira de que é bagunça mesmo, que fala como uma louca, que diz o que vier na cabeça, que diz palavrão mesmo, que recato não combina com sua posição de travestistransexuaisetransgênero. Ela reforça o preconceito e por isso faz tanto sucesso.

Na boate Metrópole, o que se viu em seu “show” foi exatamente o descrito acima. Com o agravante que o lugar, gls por vocação (ainda bem!), estava repleto de congêneres de Luisa. E todos evocavam a “diva” da concordância errada a se jogar na piscina e proferir seu erro fatal: “bons drink”. Bom para ela, que ganha fama em cima do próprio desespero, ruim para toda a plateia de gays que vê a cruzada pela aceitação da opção sexual livre, da união homoafetiva comparada com a própria trasheira que é Marilac".

Você concorda com o Fernando Albuquerque? Deixe aqui a sua opinião.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

DIREITO IGUAL É TER O DIREITO DER SER DIFERENTE!!! -> por Thais Maranho

 
Com tantas declarações ofensivas contra o público LGBT na mídia (vide atual palestra de sabedoria da deputada Myrian Rios - foto ao lado) é louvável quando encontramos quem retruque toda essa hipocrisia.  Por isso divulgaremos a seguir um trecho do desabafo da Thais Maranho, em relação ao comentário da deputada:


"3) Como uma pessoa pode achar que é ter o mesmo direito: a pessoa escolher sua opção sexual (vejam o vídeo) e ela não querer que uma lésbica, ou gay, ou travesti (vide vídeo) trabalhe na casa dela? ONDE que essa comparação é igualitária? ONDE que é o mesmo direito de ir e vir? Era só o que me faltava eu ter nojo de trabalhar com hetero, que contaminarão a minha família, néam? As comparações são infelizes e sem fundamento NENHUM.
4) Como uma pessoa que acha que homossexualidade e pedofilia são a mesma coisa é deputada? Como uma DEPUTADA pode igualar um homossexual com um travesti e achar que ambos são OPÇÕES sexuais? Ela não lê? Ai, não precisa, né? Ignorância pura. #tiriricafeelings 

5) Como ela pode achar que ela tem o direito de não querer que eu chegue perto dos filhos dela e chamar isso de “não preconceito”? Onde está o argumento fundamentado? Onde que a ciência prova que somos contagiosos e causamos sérios danos à saúde mental e física de alguém? Cuidado com a calúnia, Dona Myrian".


Texto na íntegra? Clique aqui.

Marcha das Vadias em Curitiba! Venha defender o fim do preconceito

A Marcha da Vadias (originária do termo ‘slut walk’) vem cobrindo as ruas do mundo inteiro. Um grupo de artistas, comunicadoras e estudiosas de Curitiba se uniu - a fim de desmistificar o gênero ‘vadia’ e reivindicar sobre a questão do estupro, violência e desrespeito ao sagrado feminino - para trazer a realização canadense à cidade da cultura. 

 
Sobre os ideais da caminhada pode-se citar "o fim do preconceito contra os grupos LGBT, pelo respeito às diferentes formas de orientação sexual", segundo informações disponibilizadas no blog oficial. Abaixo mais algumas propostas da caminhada:


"*Luta contra a violência sexual, a submissão, a exploração do corpo da mulher como também o conservadorismo que nos diz que, se não quisermos ser estupradas, não devemos provocar.
* A assistência às prostitutas, maiores vítimas de violência e agressão sexual, pelo reconhecimento profissional e por uma condição mais digna, sem exploração.
* O apoio às mulheres agredidas, que tenham a segurança do Estado para defendê-las de seus agressores".




Sem restrição de público, quem quiser participar não precisa de convite, basta comparecer, dia 16 de julho, no Passeio Público, às 11h.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Agressores gravam ataques contra travestis e postam no youtube

O vídeo , com duração de dois minutos, foi feito de dentro de um automóvel com 3 ou 4 jovens que procuravam suas vítimas na Avenida Brasil, em Maringá, para arremessarem bexigas de água contra elas no domingo, dia 3. As imagens foram postadas no Youtube por Bruno84943, com o título "Traveco Molhado em Maringá". No linnk divulgado pelo Maringay o vídeo apresentou mais de 230 visualizações.

As vítimas não foram identificadas nas imagens. Até a tarde de ontem, nenhum boletim de ocorrência sobre o caso havia sido registrado na 9ª Subdivisão Policial (SDP).

O delegado Laércio Cardoso Fahur diz que toda violência – desde o insulto até a agressão física – deve ser denunciada. No caso da agressão contra os homossexuais na Avenida Brasil, os jovens infringiram o artigo 140 do Código Penal, que prevê pena de reclusão de 3 meses a 1 ano. Há casos em que a pena pode ser alternada para prestação de serviços à comunidade.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Brasil registra dois casamentos gays em um mês

A juíza Júnia de Souza, da 4ª Vara de Família de Brasília, converteu a união estável homoafetiva de Sílvia del Vale Gomide Gurgel e Cláudia Helena de Oliveira Gurgel em casamento nesta última terça-feira, dia 28, em Brasília. A advogada na ação, Maria Berenice Dias, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e maior especialista da área no País, declara que “a Justiça continua nos mostrando que é corajosa”.

 
Com o casamento gay, todos os direitos são agora plenamente garantidos aos casais homossexuais. Para a vice-presidente, existe uma demanda reprimida. “Elas pensaram em mudar para a Argentina para se casarem”, disse. Para a especialista em Direito Homoafetivo , “não tem porque a lei não atender os sonhos e os desejos das pessoas”, garantiu. Para ela, o que o Supremo Tribunal Federal fez foi chancelar o que a justiça já estava fazendo. Berenice esclarece que o Ibdfam solicitou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que todas as ações relacionadas a casais do mesmo sexo sejam encaminhadas às varas de família, onde estas varas específicas existirem.
 
Silvia Gomide Gurgel afirma que “essa sentença fez com que ganhássemos cidadania, nós não nos sentíamos parte do país. Agora somos cidadãs e desfrutamos de toda a legalidade”. O casal conta que já vive junto há onze anos e que o casamento vai mudar apenas aspectos econômicos e emocionais. “Por nos sentirmos parte do país agora, nós, que havíamos pensado em mudar para uma nação que reconhecesse nossa união, vamos ficar e continuar nosso negócio no Brasil, além disso, a sensação de não pertencimento e de viver à margem foi transformada”.
 
Esse já é o segundo casamento gay registrado na história brasileira. O primeiro  foi do casal Luiz André Rezende Sousa Moresi e José Sergio Sousa Moresi. O Juiz da 2ª Vara da Família da Comarca de Jacareí, Dr. Fernando Henrique Pinto, autorizou no dia 27 de junho a solicitação de casamento civil feita pelo casal.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mortal Kombat, Street Fighter, KOF e homoexclusão



Mortal Kombat, Street Fighter, KOF e homoexclusão
(por Zé Roberto- da comunidade LGBT Brasil do Orkut)


Quando comprei Mortal Kombat Armageddon soube que era possível criar personagens. Na mesma hora eu pensei: “Linda! Vou fazer um personagem travesti para chocar a comunidade!” . Fui obrigado a jogar horas a fio para ganhar “moedas” suficientes e comprar roupas para os meus personagens. Quando consegui, fui lá fazer meu personagem. Decepção! Simplesmente não era possível colocar roupas femininas num lutador masculino! :-O

Fiquei pensativo e reflexivo. Não somente pelo aviltamento do direito de eu vestir meu personagem da maneira como eu quiser , como também pela questão de que muitos personagens de vídeo games preenchem 100 % papéis heteronormativos. A maioria deles são todos homens e mulheres extremamente masculinos e femininos, respectivamente.

Tudo bem! Sei que estes jogos querem vender uma imagem de perfeição, de força, de potência e os estereótipos de homem e de mulher preenchem estes requisitos. (Como se não pudesse haver um “modelo perfeito de gay ou lésbica!) O problema aí é a exclusão total de LGBTs deste universo. Pensei nos meus jogos prediletos – Mortal Kombat e Street Fighter. Não há personagens LGBTs assumidos.

Comentei com um amigo meu sobre isso e ele me disse que “minha vida gira em torno da causa LGBT e que eu estava vendo pêlo em casca de ovo ”. Impressionei-me como é que a heteronormatividade é naturalizada de tal forma que ao questioná-la, as pessoas simplesmente não te acompanham. Às vezes eu tenho a impressão de que gays e lésbicas (principalmente os afeminados e as masculinizadas) não se importam de não serem representando em lugar algum. Acham normal todos os personagens de games serem homens masculinos e mulheres femininas.

Esse debate suscita questões interessantes, como a diferença entre homofobia e homoexclusão.

A homofobia caracteriza-se por um discurso de ódio, uma violência e uma discriminação, opiniões tortas e irrefletidas. Ela é ruim. Mas a homoexclusão é tão prejudicial quanto a homofobia. Dá aos LGBTs um sentimento de inadequação, de não pertencimento à humanidade, de que sua existência é completamente anormal (num sentido qualitativo). Ela é cruel porque naturaliza os heterossexuais como regra absoluta. Além disso, ela tira dos heterossexuais uma consciência social de pluralidade e diversidade de existências humanas , o que os torna extremamente chapados, intolerantes e com sentimentos de presunção, superioridade e petulância com relação à si próprios.

Dizer que a exclusão de personagens LGBTs de muitos games é “acaso”, é balela pura. Em The King of Fighters , por exemplo, temos personagens LGBTs clássicos como Vice (?), King, Benimaru, Iori (tem uma certa androgenia). Nesse sentido, há, a meu ver, um problema cultural entre EUA e Japão. Os jogos que tem influência japonesa tem mais abertura a estes personagens. Já jogos 100 % americanos (como Mortal Kombat) são totalmente heteronormativos.

O jogo Street of Rage III, há alguns anos atrás, quando feito por japoneses, lançou o personagem Ash , um estereótipo da bicha norte-americana sadomasoquista. Batia MUITO! Na versão americana ele foi retirado por causa do medo de que alguns pais reclamassem de que um personagem gay pudesse influenciar seus filhos.

O mais engraçado dessa imbecilidade é que trata-se de jogos da mais pura violência, com cabeças decepadas, braços arrancados, dentes para fora, tiros de toda forma , mas que exclui personagens LGBTs como forma de proteger as crianças. A sociedade só pode ser doente! Eu queria realmente entender que poder é esse dado aos gays, maior do que a mais pura e doentia violência dos jogos de vídeo game.

Ora, mas por que ter personagens LGBTs é importante? Simples! Porque eles têm penetração entre crianças e jovens, que ao tomarem contato com a diversidade de gênero e de possibilidade de manifestações de elementos masculinos e femininos , passam (em tese) a ser mais tolerantes ou a compreender que as pessoas não têm que ser todas iguais e que LGBTs são parte do mundo (ainda que sejam “errados”, mas pelo menos eles existe!).

Os fanáticos religiosos sabem que no dia em que educarmos as crianças, seus fundamentos homofóbicos deixarão de existir e não precisaremos mais punir os adultos. Daí a reação contra o kit contra a homofobia. É na educação de base que mudamos a sociedade.

Infelizmente isso é visto como uma forma de incentivar o “homossexualismo” (sic). Seja como for, essa tendência nos jogos eletrônicos tem mudado consideravelmente. Encontramos personagens LGBTs em vários games, o que é muito bom! Mas ainda assim essas iniciativas são tímidas. Seja como for, este debate serve para nos fazer refletir sobre o impacto da homoexclusão, da naturalização da heternormatividade dos próprios LGBTs e do incrível poder que é dado à homossexualidade e da pluralidade de gêneros, maior que o da violência cabal dos games.

Muitos negros passaram a exigir sua presença em filmes. Judeus resgataram seu papel para a humanidade. Africanos têm mostrado que o berço da humanidade é ali e exigem seu papel nos livros de história. Mas é triste constatar como LGBTs acham perfeitamente normal um lugar (um jogo ou qualquer coisa) sem sua presença. Acostumamos-nos a sermos invisíveis . Lamentável.

Amor e Paz

terça-feira, 28 de junho de 2011

No meio do caminho tinha um muro...

Artigo que escrevi a alguns anos atras sobre o histórico e subversivo 28 de junho de 1969. Uma boa oportunidade para relembrar nossos heróis.





"No meio do caminho tinha um muro"
(por Dorothy Lavigne)

Ha momentos, na longa caminhada humana, e mais exatamente na sua contemporaneidade, que costumam ser abandonados, uma vez julgados e condenados pelo tenebroso Tribunal da Historia, e seus heróis, principalmente os anônimos, punidos por aquela à qual Camões designou em sua obra magistral como a "Lei da Morte", a saber, o esquecimento. O titulo deste segundo artigo, mais que uma paródia ao famoso poema de Drummond, é uma alusão a um destes momentos-chave, que nunca está presente nos livros e atas históricas, apagados da lembrança da maior parte da sociedade; mesmo tratando-se de um marco único em um processo social que, ao partir de um determinado segmento e tendo como foco o mesmo grupo, acaba por atingir indiretamente a totalidade das construções e interações sociais.
Mesmo correndo o risco de parecer -ou, de fato, ser- por demais acadêmica, gostaria de apresentar um recorte de jornal como introdução pertinente(uma boa fonte é sempre bem-vinda):


"De repente, o camburão chegou e o clima esquentou. Três das mais descaradas travestis - todas em drag - foram empurradas para dentro da viatura, junto com o barman e um outro funcionário, sob um coro de vaias da multidão. Alguém gritou conclamando o povo a virar o camburão. Nisso, saía do bar uma sapatona, que começou uma briga com os policiais. Foi nesse momento que a cena tornou-se explosiva. Latas e garrafas de cerveja começaram a ser atiradas em direção às janelas e uma chuva de moedas foi lançada sobre os tiras..."
(2)



Observemos os fatos: havia na decada de 60 vários bares destinados então ao segmento GLS no bairro novaiorquino de Greenwich. Era bastante comum e corriqueiro (na verdade uma norma) que houvessem batidas e inspetorias policias nestes lugares, por uma séries de pretextos- geralmente falta de licença para venda de bebida alcoólica. Estas intervenções geralmente acabavam com o fechamento do estabelecimento e apreensão das bebidas, e de "todos os que se encontravam travestidos". Na madrugada do dia 28 para 29 de junho do ano de 1969, porém, ao praticar o ato já costumeiro e prender alguns travestis (3),num bar da região chamado Stonewall Inn, a força repressora teve uma grande surpresa: os clientes do local resolveram resistir em solidariedade aos amigos. Logo o bairro transformou-se um palco-de-guerra, quando os homossexuais e trangêneros resolveram armar barricadas e, no ápice da revolta, prenderam os policiais dentro do proprio bar e passaram a incendia-lo.
Os soldados conseguiram a muito custo escapar, mas, ao voltar no dia seguinte, encontraram uma série de pichações e cartazes pedindo, pela primeira vez na historia, respeito e igualdade de direito. Tal episódio tornou-se conhecido como "A Batalha de Stonewall" ("Stonwall Riot") e é o mais significativo ato da militância LGBT, ao passo que marca oficialmente o inicio de um movimento organizado. É por isso que o dia 28 de junho é mundialmente saudado como Dia do Orgulho,
porém um dia de conscientização e confronto, não à mesma maneira de 69, pois mudou-se o contexto.
Mas ainda há muito espaço para conquistar. Ainda há muitos pedaços que restaram dentro de nós daquele pequeno e ao mesmo tempo enorme Muro de Pedra do suburbio de
Nova York.


Quer saber mais?
http://www.esquerda.net/dossier/batalha-de-stonewall-marco-do-movimento-lgbt

NOTAS:
1-Artigo apresentado no jornal "O Grito" do CAHIS (Centro Acadêmico de Historia) da UFPR, edição de nº2, Novembro de 2008.
2-Trecho do jornal "Village Voice", por ocasião do fato.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Campanha: 1,5 milhões de assinaturas pelo PLC 122

Aproveitando nossa 100ª postagem para repassar esta importante campanha

FONTE:http://www.plc122.com.br/militancia-pretende-recolher-assinaturas-pro-plc122/#axzz1PwUC22WX

Militância pretende recolher 1,5 milhão de assinaturas pró plc122

(Por Marcelo Gerald)

A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo deste ano promete ser a mais politizada de todas as últimas edições.

A edição do ano passado já apoiava temas políticos com o lema “Vote contra a homofobia”.

Eu sempre vi a Parada como um ato político, independente da alegria e do caráter de festa. Embora muitos façam críticas duras ao evento e questionam se temos algo para nos orgulharmos, eu defendo que sim, afinal várias pessoas dizem o ano todo que ser gay é ser/estar errado, como se fosse apenas um comportamento que pudesse ser modelado ou até mudado. A própria presidenta da República ao suspender o kit anti-homofobia, transmitiu esta ideia errônea, dizendo que o governo não vai estimular “comportamentos” (sic).

Esta é uma das razões da importância de nos orgulhamos, sim. Precisamos mostrar que não somos e nem estamos errados e também que não nos envergonhamos de ser LGBTs.

Além de participar da parada, todos poderão apoiar e divulgar o abaixo assinado elaborado pela APOGLBT e pela ABGLT, com o objetivo de reunir 1,5 milhão de assinaturas apoiando o projeto de lei contra a homofobia.

A Frente Paulista Contra a Homofobia abriu evento no Facebook com o objetivo de recrutar voluntários para coleta de assinaturas.

Faça sua parte!

Se não vai comparecer à Parada de SP, você também pode imprimir e coletar assinaturas na sua cidade.

Pegue o modelo aqui.

Imprima, e depois de completar as assinaturas, basta enviar para a ABGLT, no seguinte endereço:


Avenida Mal Floriano Peixoto, 366 – cj 47 – Curitiba – PR – CEP: 80010-130

Atenção para o prazo! As assinaturas devem ser enviadas até o dia 10 de dezembro.

Diversidade: Libere essa Idéia!

“É ou não, piada de salão? Maconha proibida, mas homofobia não!!!”

No último sábado, dia 18 ocorreram em todo pais, concomitantemente, as chamadas Marchas da Liberdade. Para quem ainda não sabe, os eventos forma organizados com o objetivo de denunciar o proibição da Marcha da Maconha, movimento até aquele momento censurado pelo Poder Publico , embora legitimado por uma grande parcela da população- e que busca meramente pregar a legalização das drogas. Como militante, acompanhei de perto toda a movimentação, e cheguei a participar da ultima reunião junto com a organização do evento. Neste artigo, vou apresentar meu relato, e minha opinião.

Em Curitiba, a concentração começou por volta das 11 da manhã, na Praça Rui Barbosa, centro da cidade. Durante a oficina de confecção de cartazes, foi possível dar uma rápida espiada em quais as bandeiras defendidas e os movimento sociais presentes- que iam desde uma manifestação contrária a instalação da Usina de Belo Monte, contra o novo código florestal, até a chamada para a Marcha das Vadias, passando pela Campanha em prol do PLC 122 (que criminaliza a homofobia), além, é claro, da polêmica sobre a legalização das drogas. Todos os grupos unidos e tendo em comum a defesa da Liberdade de Expressão, direito muito falado, porém muito pouco compreendido e menos ainda colocado em prática.

Por volta do meio-dia, iniciou-se a caminhada em direção ao Centro Cívico. Centenas de manifestantes, a grande maioria jovens, fizemos muito barulho no centro da cidade, paramos em vários lugares, para debater com a comunidade e apresentar nossas indignações. O movimento de cunho absolutamente pacífico. Não houve nenhum tipo de contratempo, talvez alguma discussão com a polícia, ou algum desentendimento temporário entre manifestantes, “praxe”em eventos deste porte. E, mais interessante, não pude ver em momento algum, rigorosamente ninguém se utilizando de drogas, sejam licitas ou ilícitas. A Marcha da Liberdade em Curitiba, foi em suma, um ato publico muito bem organizado e sem nenhuma surpresa desagradável. O que é até um alívio, se tratando da capital nacional do nazifascismo.

Na minha singela opinião, os integrantes da Marcha da Liberdade merecem todos os louros, pois estão literalmente fazendo história. Já há indicações de que o movimento cresça e angarie apoio de mais pessoas e mais bandeiras. O que era para ser uma passeata a favor da legalização das drogas está se tornando um grito nacional contra a criminalização dos movimentos sociais, uma união de vários grupos em prol de um bem comum- a Liberdade, direito básico de todo ser humano (ou que ao menos deveria sê-lo numa democracia), mas que costuma ser relativizado no Brasil, quando religiosos fundamentalistas, se vem no direito de amaldiçoar e ameaçar LGBTs, mas não aceitam que os mesmos possam andar de mãos dadas nas nossas ruas, apenas para citar um exemplo mais próximo.

O que era para ser uma critica a policização do uso de cânhamo, por maiores de idade, a para uso recreativo, acabou por se tornar , graças a censura por parte de segmentos conservadores, viúvas da ditadura e juízes distorcionistas-constituicionais, um movimento nacional que prega a união das minorias, dos excluídos e dos perseguidos políticos. As minorias unidas, formam a maioria e já passou da hora de nos juntarmos na luta.

Entendo que tal união se faz necessária, não apenas como estratégia política, mas porque analisando mais profundamente, trata-se de uma mesma luta. Nós, aqueles que se enquadram socialmente como LGBTs (deixando de lado as controvérsias internas sobre identidade) queremos exatamente a mesma coisa que os defensores do direito de acesso à maconha: direito de discernir sobre nossos próprios corpos e sentimentos, sobre nossas experiências de vida. Afinal, quem manda nos nossos corpos? A cultura? A religião? As instituições civis?

Tive a oportunidade de estar presente no dia anterior a Marcha, numa Audição Publica contra a legalização das Drogas, que teve lugar na Câmara Municipal, evento organizado por pastores evangélicos e aberto, literalmente, “em nome de Jesus” (e isto, numa instituição que deveria ser laica !). Não há dúvidas: o mesmo movimento que quer usar o argumento do cacetete contra nossos jovens que usam maconha, também milita contra a criminalização e banalização da homofobia, e contra a laicidade de estado. Colocam toda e qualquer bandeira progressista num mesmo balaio, e rifam nossos direitos mais elementares em nome da moral e dos bons costumes.

Defendo que precisamos, mais que nunca, unir forças, pois o outro lado, que não tenho o menor pudor de chamar “teocratas e fascistas militantes”, estão se organizando politicamente contra nós. Nós queremos garantir nossa Liberdade, Liberdade sobre nossos corpos, nossos pensamentos, Liberdades filosóficas e religiosas (incluindo o direito de não professar nenhuma religião, sem precisarmos nos expor a situações vexatórias, como os pastores que acorrem em praça pública para nos “criticar”). Eles querem a liberdade para tirar nossa liberdade, o direito sagrado de usar da “liberdade de expressão” [distorcida] para nos calar e proibir que andemos de mãos dadas com nossos companheiros.

Que o bom exemplo de rebeldia com muita causa se torne cada vez mais freqüente. Que seja apenas o começo!

Por fim, o trailler de um documentário sobre a Marcha, com participação especial da pessoa que vos fala:

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nebacetin elabora jogo de tabuleiro com personagem gay


O laboratório farmacêutico Nycome modernizou o Jogo da Vida no intuito de promover a marca Nebacetin. Desde o início do mês os internautas já podem acessar o site e fazer o pedido para receber em casa uma das 39 mil unidades disponíveis do Jogo da Vida Famílias Modernas.

A iniciativa faz parte da plataforma “As famílias mudam. O jeito de cuidar não”, para mostrar que o tradicionalismo deu lugar para uma cultura diversificada, mas a necessidade de cuidado com a saúde da família permanece a mesma.

O Jogo da Vida Famílias Modernas apresenta quatro novos personagens: o filho de pais divorciados, o filho adotivo, o independente e o gay, que vivem diferentes situações para envolver os jogadores em contextos da atualidade. O produto é gratuito e o único custo para os consumidores são as despesas de entrega.Confira mais detalhes sobre o material no vídeo abaixo.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

SOU É HOMEM - de saia, salto alto e batom

Se homossexuais sofrem com o tabu pense então em um homem que não é homossexual mas adora usar as roupas da namorada ou a maquiagem da irmã? O crossdresser é assunto que choca os conservadores e faz a sociedade pensar ao contrário, é também o tema que a revista IDEIAS abordou essa semana. Para quem se interessou pela reportagem, segue um trechinho da reportagem.

SOU É HOMEM, MAS DE SAIA, SALTO ALTO E BATOM

Desde que o cartunista Laerte (imagem acima) apareceu de saia, salto alto e batom o assunto veio à tona. Mas o fetiche de vestir roupas do sexo oposto vem de muito tempo. O termo crossdresser é atual e significa em tradução literal “vestir-se ao contrário”. Nos Estados Unidos e na Europa este termo é bastante utilizado e diferencia a fantasia de usar roupas do sexo oposto das preferências sexuais de cada um. Como o assunto é tabu gera preconceitos e estranheza.

No Brasil, existe um site criado há 14 anos por Monique Michele, Deborah Lee, Priscila Queen e Deborah Cristina (nomes fictícios) voltado ao assunto chamado Brazilian Crossdresser Club (BCC), pioneiro no tema. O BCC é voltado a homens que vestem-se como mulher, pois existe também o crossdresser masculino, ou seja, mulheres que vestem-se como homens. Segundo o site, a finalidade é a integração social entre pessoas que têm a fantasia de usar roupas do sexo oposto ou crossdresser.

Se interessou? Confira a matéria na íntegra

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cine Pinkpoka: Mutação Sexual como Tabu

Ola a todos, em primeiro lugar, gostaria de expressar minha gratidão em relação ao carinho que tenho recebido dos leitores e amigos, desde que fui vitima daquela pavorosa agressão heteroterrorista.

Já estou melhorando, em breve, novidades. Bola pra frente.

A seguir apresento um documentario interessantíssimo (meu preferido na verdade) sobre um tema que aqinda é pouco debatido no meio LGBT: a mudança de sexo e gênero.

Este video, produzido pela National Geografic Latina, mostra varios tipos de experiências corporais, alem de apresentar os principais e acalorados debates entre os especialistas, desfocando da esfera, (na minha opinião dogmática) das ciências naturais, das ciências "psi" e da saúde. Ou seja, algumas das falas do filme são desconhecidas do grande publico.

E o mais importante, a obra trata de questões que chamaríamos de "travestilidade" e "transexualidade" indo para muito além das ideias em voga sobre "medicalização" e "identidade", mostra tais experiências pela entrada do que eu chamaria de "corporalidades" o uso dos corpos para a botenção de prazer e satisfação.

Para mim, o que mais marca no filme é a fala da bióloga Brigitte Baptiste, que realça sua tese de que a origem do fenomeno não é biológica e sim, socio-cultural. Interessante comparar sua visão com o relato da Designer Paula e com a experiência d@s muches mexicanas.

Assistir filmes sobre esta temática é sempre uma experiência nova e construtiva. Aproveitem



Infelizmente, por uma questão de espaço, opto por não postar todas as partes do filme aqui, mas o restante pode-se encontrar nos links abaixo:

Parte 2- Parte 3- Parte 4- Parte 5

sábado, 28 de maio de 2011

Polêmica envolvendo kit anti-homofobia é justificável?



Após assistir ao material, a presidente do Brasil suspende a veiculação e Ministério da Educação pretende refazer o kit do projeto. Confira os vídeos na matéria e avalie se a declaração de Dilma Rousseff é válida ou não

   


Em 25 de maio a presidente Dilma Rousseff tomou uma decisão que chocou o público LGBT. Dilma suspendeu o kit anti-homofobia, que faz parte do projeto Escola Sem Homofobia, por afirmar que o material realiza "propaganda de opções sexuais" (para ouvir mais da declaração, confira o vídeo abaixo).


O kit iniciou há três anos com elaboração conjunta de mais de 500 pessoas de todas as regiões do país e foi conduzido por instituições de renome como Pathfinder do Brasil, ECOS (Comunicação em Sexualidade) e Reprolatina (Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva). O Projeto Escola Sem Homofobia também possui parceria do Governo Federal. 

O resultado dessa pesquisa - o Kit Escola Sem Homofobia com os respectivos vídeos  Probabilidade, Encontrando Bianca e Torpedo  - foi avalizado pelo Conselho Federal de Psicologia, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura), pela UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas em HIV / AIDS), entre outras entidades nacionais e internacionais.


Como resposta a suspensão das gravações, o presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) enviou uma carta aberta a Dilma Rousseff. No texto, Toni Reis reafirma as conquistas do movimento no mandato da presidente mas também relembra a suspensão do kit anti-homofobia, que foi realizada sem a consulta dos Ministérios envolvidos, inclusive o próprio Conselho Nacional LGBT, e/ou demais pessoas diretamente envolvidas com o assunto. "Não queremos 'propaganda' da nossa 'orientação' sexual e nem da nossa identidade de gênero. Nunca pedimos isso. Todo mundo sabe que somos lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Essa carta é uma reivindicação baseada nos compromissos afirmados por seu governo e nas garantias fundamentais da Constituição Federal", declara Toni Reis.

De acordo com site G1, O Ministério da Educação pretende refazer o kit do projeto “Escola sem Homofobia” e distribuir  para professores de turmas de ensino médio em mais de 6 mil escolas ainda neste ano.

E você, o que acha sobre a proposta kit sem homofobia? Você concorda, ou não, com a declaração da presidente Dilma Rousseff?