segunda-feira, 18 de abril de 2011

Bolsonaro no cu dos outros é refresco...


Bolsonaro no cu dos outros é refresco...

(por Dorothy Lavigne)

Hail Mott!
Ave Butler!

Neste último sábado, dia 15, ocorreu na capital paranaense o ato “Fora Bolsonaro”, em repúdio e pedindo a cassação do mandato deste ilustre (no sentido literal de “sem luz”) deputado estadual. Para quem esteve fora de órbita nestas ultimas semanas e ainda não ligou o nome à pessoa, Jair Bolsonaro – vulgo “Boçalnaro” ou “Bolsonazi”- é um político assumidamente de ultra-direita, saudosista da “dita-dura militar”, conservador, homofóbico e “defensor da família” (a DELE, óbvio).

Famoso por suas polêmicas ao debochar do Movimento pela Verdade, afirmando que “quem procura osso é cachorro”, em referência aos militantes chacinados em crimes políticos, por defender a democracia no regime que ele tanto ama. Célebre por “denunciar” o “kit gay”, na verdade um projeto do MEC que visa introduzir o debate sobre a diversidade sexual e de gênero nas escolas de ensino primário, Nada mais correto, pois é dever da escola primária esconder das crianças qualquer referência a sexualidade humana (inclusive a heteronormatividade) e de preferência, ensinar de cátedra a velha Estória da Cegonha. Insigne[ficante] por se opor heroicamente a toda e qualquer ação afirmativa que venha dar visibilidade ou beneficiar as minorias- com excessão dos militares, para quem os filhos do deputado propõe cotas no ensino publico. Enfim , um grande defensor do Bolsa-da-minha-família, contanto que pobres, negros e outras minorias continuem sem acesso a esses espaços. Aliás, depois que esse “babado” caiu na mídia, acho que alguém andou levando umas palmadinhas didáticas...

A revolta de uma grande parcela da população eclodiu quando, durante uma participação do deputado no programa CQC, na qual teria confundido uma pergunta de forte teor racial, por uma de teor sexual. Afinal é muito fácil se confundir “negra” com “lésbica” e “bissexual”, pois as expressões são fonéticamente muito semelhantes. Tudo a ver, parece até uma música dos Mamonas Assassinas. Depois ainda tentara se desculpar perante a opinião publica dizendo que só faria uma declaração de cunho racista se estivesse louco, uma vez que evidentemente ele teria menores chances de ser condenado por homofobia, pois não há lei específica sobre esse assunto.

Alias, minha resposta, na ponta-da-lingua a tal afirmação estratégica de defesa seria “alguém no recinto poderia fazer o favor de chamar a ambulância do hospício?” , pois quem afirma este tipo de sandice está mais do que “pinel”. Minha teoria é que tal surto psicótico não teria tido como estopim a criação do “kit de combate a hipocrisia”, mas sim a entrada no cenário do palhaço Tiririca. Boçalnaro não aceita competição desleal e a vários mandatos é o responsável pelo humor pueril no Congresso. Puro acesso de inveja disfarsada de homofobia. Alias, dizem as más línguas que nosso herói só não usa nariz vermelho em publico, pois seu sonho é usar um bigodinho “a-lá-Hitler”.

Mas tudo bem, terminada esta análise da sanidade mental do individuo em questão (Freud explica tranquilamente este tipo de terror e fobia a sexualidade alheia através da teoria do recalque) e apresentada uma análise do contexto, para os menos informados, passarei a um breve relato sobre o ato do último sábado.

A manifestação fora deveras tranqüila, apesar do pequeno número de participantes. O ato marcou pela qualidade das falas, das quais destaco uma frase de um estudante que afirmara ter orgulho de ser homossexual. Não houve participação do movimento organizado, nem de celebridades, fora o tipo evento “de base” e “pela base”, ou seja, feito por pessoas físicas de vários segmentos sociais, que tinham em comum a fato de estarem fartas dos excessos e brincadeiras de mal-gosto da classe política brasileira. O evento marcou mais pela qualidade do que pela quantidade de pessoas.

Chamou-me a atenção a quantidade enorme de “pessoas de bem e de família” que estranharam a manifestação. Nunca vi tanta bolsonarete enrustida junta, tanta gente virando o rosto e fazendo cara feia. Teve até um mais assanhadinho que a certa altura gritara para os manifestantes um belíssimo “vá trabalhar, vagabundo!” – só não entendemos o que tão eloquente defensor da virtude do trabalho, estaria fazendo em plena hora do almoço, tentando deslegitimar um manifesto político, quando poderia aproveitar a sua “ciesta” para fazer algo mais útil a nossa sociedade.

Pois bem, cumprida minha função jornalística passarei a minha critica, apresentarei minha opinião, que como os leitores sabem, costumam ser bem polêmicas. Não é só o nobre deputado Bolsonazi que é chegado numa bombinha. Ora, percebi, e alguns amigos mais chegados também perceberam, a excassez de manifestantes negros no ato. A partir daí surgem minhas divagações: será que os negros entenderam e validaram a tese de que o suposto ataque racista na verdade fora fruto de uma confusão e que teria sido “apenas” um ato de ódio e ojeriza aos LGBT’s?

Concordo que realmente o político em questão possa ter se confundido, afinal confusão é o que mais se espera de um indivíduo que em pleno século XXI esconde sua admiração a ideologias genocidas fracassadas sob o manto da “defesa da família”. Mas então se o problema não é nosso e não tocam direitamente na nossa ferida, viremos as costas? Esta triste realidade só vem a dar sustentação a uma crítica que venho apresentando a anos, a de que o brasileiro médio ainda não está preparado para viver num regime democrático, pois não aprendeu a ser solidário e não entende que quando o outro é agredido os estilhaços vão na sua direção, pois as relações sociais formam uma imensa teia. Bolsonaro no cu dos outros é refresco...

Outra critica que faço é em relação a uma profunda incoerência dentro do movimento. Achei interessantíssimo o argumento de que muitos dos eleitores que sustentam o mandato desta família de delinqüente fazem parte do segmento LGBT. Como assim?! Isto é puro masoquismo político, ou uma parcela conservadora deste grupo tão discriminado elege políticos racistas e fascistas, que defendem a volta da ditadura e têm horror a população carente?

Outra triste realidade: os gays que votaram e Bolsonaro e seus aliados políticos, pregam o perfil do “gay limpinho, cristão, conservador, estudado e bem comportado” e acham que vão se blindar aplaudindo quando a polícia espanca as “bichas pintosas” na rua. As ‘transex’ que votam em Bolsonaro (e aqui me refiro também a algumas onguistas cujo nome prefiro não citar) são as mesmas que acusam suas próprias companheiras de “aprontarem” ou de serem “contra os bons costumes”, quando estas são presas no espaço profissional da prostituição, ao invés de minimamente garantir o direito do cidadão a defesa jurídica e ao acesso a educação, saúde e outras opções de trabalho- afinal “cotas e formação profissional adequada é coisa de bicha pobre e incompetente”, e (sic) “travesti só se prostitui por que quer”.

As vezes penso que algumas ONGs são o maior antro de bolsonaretes moralistas do país. E que se frise que minha critica aqui não é generalizada, conheço varias ONGs que têm um histórico de luta pelos direitos da população LGBT e espero do fundo do coração que minha denuncia tenha sido endereçada a uma minoria.

Concluo defendendo que sim, é absolutamente necessária uma resistência popular e uma luta ferrenha contra esta corja de políticos que querem a manutenção do status quo heteronormativo, a superioridade homem branco, cristão e de classe média e alta. Assim como é de importância vital o combate incansável as viúvas da ditadura, a pessoas que se põe favoráveis a qualquer forma de opressão, a indivíduos que não contentes em utilizar a religião para chegar ao poder e mamar nas tetas do governo, ainda querem transformar o Brasil numa teocracia parecida com o Irã. Porém “advogo” que o segmento LGBTs também precisa fazer uma autocrítica e fazer uma campanha interna a favor da coerência política e na prática cotidiana e contra a hipocrisia cor-de-rosa.

Vamos pensar sobre isso? Opiniões sempre serão bem-vindas.

Desbundai!

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