quinta-feira, 9 de setembro de 2010
“Garoto de 18 anos morre após ser atacado por skinheads em Curitiba”
Bati o olho nessa chamada na capa de um jornal na segunda-feira passada. Engraçado como aprendemos a “ler” a violência e compreender os seus sinais. Não é necessário intuição para entender porque o menino da manchete foi o alvo. Principalmente quando se sabe o motivos de as pessoas LGBT serem vítimas específicas de homicidas e agressores também específicos, como é o caso dos nazi skinheads.
A medida da morte já alcançou a homofobia há tempos. Não é de hoje que se morre em Curitiba por ser gay, travesti, lésbica, bissexual ou transexual. A violência cotidiana do preconceito velado ou escancarado contra meninas, meninos, pessoas adultas ou senhores e senhoras alcançou um grau fatal. Morre-se em Curitiba de forma violenta e banal, com tiros, facadas, tortura, espancamento. Morre-se como se fosse simples, como se ainda vivêssemos a esquizofrênica política de saneamento dos nazistas.
O menino que perdeu a vida na noite do último domingo, dia 5 de setembro, caminhava pelas ruas do bairro São Francisco, perto do Centro da capital paranaense. Após se deparar com um grupo de homens neonazistas, ele foi ferido na região abdominal - recebeu cinco facadas na barriga. Não deu tempo de os socorristas levarem o jovem ao pronto-atendimento. Ele morreu antes.
Morre-se em Curitiba, por não ser heterossexual, como se fosse uma solução aritmética, como se fosse um fato natural de acontecer, simples. Mas, visto de perto, o significado das cinco facadas, da abordagem de um grupo de homens, do local (onde outro menino já foi assassinado no início deste mesmo ano também por skinheads) mostra com facilidade o nível de ódio empregado no ato. Para se matar um homossexual é necessário violência e raiva daquela homossexualidade. É preciso a covardia torpe de se juntar em bando impossibilitando fuga e reação.
Para promover essa “limpeza” improvável e irracional eles carecem de uma desmobilização da sociedade e do poder público, que aceita a homofobia no seu grau último e cruza os braços. Os autores dos crimes – deste recente e o do que levou à morte um menino de 14 anos em fevereiro passado – ainda não foram identificados. O significado da dificuldade que a Polícia Civil e o Setor de Inteligência da Polícia Militar têm em encontrar e entregar à Justiça os assassinos também não é simples, apesar de parecer. Ela tem um quê de complacência, de pouca preocupação que reflete diretamente nas estatísticas ascendentes de assassinatos homofóbicos.
Por Ana Paula Braga Salamon
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