terça-feira, 21 de setembro de 2010

A minha história dos outros: “Não é fácil ser lésbica”




Uma menina que não brincava de boneca. “Eu era um moleque que corria na rua com os meus amiguinhos, jogava futebol, subia em árvores, brincava de taco, atirava com armas de brinquedo, passava em rampas com bicicleta, jogava bombinhas pra assustar quem passava na rua. Era muito bom!”, relembra a gaúcha da cidade de Torres, Paula dos Santos, 27 anos.

Na adolescência as dúvidas transformaram-se em certeza e, aos 14 anos, Paula sabia que era lésbica. “Foi difícil me entender e aceitar, por isto entrei em depressão. No entanto, conheci pessoas maravilhosas, amigos que me aceitaram e ajudaram a me entender me fazendo perceber que não sou uma aberração, apenas sou diferente no quesito ‘amor’”. E não somente ela se aceitou, como muitos que não concordavam com a homossexualidade acolheram a Paula por conhecê-la. Amizades que superaram as diferenças. “Minha família também sempre soube, e aos poucos fomos falando no assunto. Eles me entendem e não me cobram por causa disto. Sutilmente eu deixo claro a todas as pessoas próximas a mim que sou lésbica. Ninguém me virou as costas”.

 Paula tinha certeza da paixão por mulheres. Contudo as experiências demoraram por um motivo bem simples: a dita timidez. Tanto que precisou de uma iniciativa da outra pessoa. “Foi estranho no começo, mas percebi que era o que gostava. Aconteceu naturalmente, mas a iniciativa partiu da menina”.

A estudante de Ciências Contábeis e recenseadora do censo 2010 superou quase todas as etapas que surgiram após a confirmação da homossexualidade, menos a do amor “proibido”. No começo era uma brincadeira com uma colega de trabalho. “No inicio eu não queria, mas aos poucos foi mudando meu olhar. Ela brincava dizendo que queria me beijar, até o dia que deu certo e nos beijamos mesmo. Senti meu corpo tremer, ela sentiu mais que curiosidade. Ela quis mais... e teve mais”, conta Paula.

Os sentimentos estavam se transformando, Paula ficava ansiosa para que chegasse a hora de trabalhar e assim vê-la. Sentia frio na barriga. “Meu dia era sempre bom, por pior que fosse. Ela tem tudo que se quer em alguém”, define apaixonadamente.

 A primeira vez se tornou várias e queriam estar uma com a outra. Sempre. A relação deixou de ser brincadeira e foram cinco meses de carinho e visitas constantes até chegar o momento de contar para a mãe dela. Na hora a sogra aceitou. No dia seguinte, percebeu a realidade da confissão, fez um escândalo e levou a filha a 80 km de distância. “Sim, ela foi. Foi porque a mãe dela ameaçou tirar dela a pessoa que ela mais ama no mundo, a irmã. Além de ameaçar suicidar-se”.

Cinco meses depois da data da fuga, a situação não se fez diferente. A “minha garota” como Paula a chama, é vigiada a todo momento pela mãe que tem medo que as duas se reencontrem. Vigilância que não nota recados offline no msn ou reencontros em segredo.  “Não é fácil ser lésbica, muito menos lésbica sem aceitação dos amigos e família. Graças a Deus isso eu tenho. O único problema é a minha ‘sogra’, que não aceita o meu namoro com a filha dela”.



Um comentário:

  1. Gostar das mesmas "brincadeiras de meninos" ou de estar mais com eles na infância não torna nenhuma menina candidata ao rótulo de "lésbica".
    Para começar, os pressupostos de que há "brincadeiras de meninos" e "brincadeiras de meninas" já parte de uma premissa sexista perversa que limita o ser-humano em desenvolvimento unicamente a esse aspecto, quando há outras variáveis a determinar interesses de pessoas de um sexo por "brincadeiras do outro", como por exemplo uma menina que se incline a atividades mais físicas que a tradicional de "brincar de bonecas". Talvez ela goste de estar entre o sexo oposto apenas por uma carência de convívio com ele.
    Atualmente namoro uma garota espanhola. Sempre me fala que na infância era meio "maria-rapaz", pois gostava mais de estar entre meninos... Nem poi isso se tornou "lésbica".
    Outra coisa importante: não confundam "homofobia" com uma oposição à homossexualidade EXPLÍCITA. Seja e faça o que quiser, mas de forma discreta, de preferência entre quatro paredes, seja homo ou heterossexual.
    Não espere uma boa acolhida pública para uma forma de se expressas baseada em sexismo. Nos dias atuais alguns homossexuais estão sendo estimulados a cometer esse erro, e se tornando vítimas de uma eterna crise de rejeição. Compreendam que seu comportamento não deve ser enaltecido publicamente, pois tudo que se torna público vira cultura, e a cultura influi no comportamento.
    Há tanta confusão nesse assunto. Percebo que você é justamente uma vítima dessa confusão.

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