quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um Paraná de 40 lésbicas e bissexuais

Por Mayara Locatelli



Plena Curitiba em um dia atípico: céu azul e clima quente na sexta-feira, no sábado e no domingo. E para estes dias (27 a 29 de agosto), mais de cem mulheres se inscrevam no III Seminário Paranaense de Lésbicas e Bissexuais (Sepale). Quantas participaram? No sábado, aproximadamente 40 mulheres, segundo a integrante da Rede de Mulheres Negras do Paraná, Alaerte Leandro Martins. No entanto, a falta de muitas inscritas não diminuiu o ânimo das que foram ao evento.


Em um hotel no centro da cidade aconteceram os debates, histórias, choros e risadas. A palestra magna sobre Saúde Integral das Mulheres Lésbicas e Bissexuais (e Vulberabilidade em DST, HIV e Aids) aconteceu na sexta às 19h. A secretária geral da ABGLT, Irina Bacci, palestrou sobre o tema junto a doutora Alaerte Leandro Martins, e tendo como moderadora a presidente do Artemis, Angelita Lima.


Na manhã seguinte , no sábado, as apresentações começaram cedo. O resgate histórico da lesbianidade e da Aids entre mulheres foi palestrada por Irina e teve como moderadora Kellyane Vasconcellos. Adiante, o Movimento de Lésbicas no Paraná foi contado pela integrante da Artemis, Simone Valêncio. Simone assinalou a falta de registros bibliográficos do movimento feminino no estado e em grande parte do país. “Os movimentos de lésbicas e bissexuais do Paraná não possuem um registro para as próximas gerações. Tem muitas mulheres que participaram do movimento e estão registradas apenas por fotos”, comentou Simone.


Foram relatados os primeiros fatos: em 2005 o congresso ABGLT, em 2006 o início do Sepale, junto a criação da Artemis no dia 01 de julho de 2006. “Foi decisão da Artemis fazer o Sepale de dois em dois anos. Desta maneira se tem mais tempo para preparar o evento e obter apoio, pois não é fácil conseguir dinheiro para reunir as mulheres”, explicou Simone.


Às 10h45 a professora Andréia, do Transgrupo Marcela Prado, explicou as diferenças entre a pessoa travesti e a transexual, tanto masculino como feminino. Andréia criticou o modo como a sociedade e a mídia tratam da readequação do sexo biológico. “Não é mudar de sexo, e sim adequar”, pontuou ela complementando que a/o transexual ao buscar a adaptação do genital está apenas adequando o físico ao pisíquico. No caso das pessoas travestis, estas não têm a necessidade da adequação, mas apresentam a identidade de gênero condizente com o psíquico. Durante a fala a palestrante traçou ainda um panorama histórico sobre as cirurgias. No Brasil, por exemplo, apenas em 1998 que iniciam-se os procedimentos cirúrgicos sob a ética do Conselho Federal de Medicina.


Após o café, às 17h, foi o momento em que o grupo mais conversou entre si. A proposta era a seguinte: uma contava alguma situação de violência que tenha vivenciado e, na volta, o grupo formou um círculo e as histórias foram se assomando. No fim, todas constataram ter sofrido basicamente os mesmos preconceitos. Seja pela ditadura da beleza, ou pela não aceitação da família e até por situações constrangedoras no trabalho e algumas na faculdade. Até quem afirmou nunca ter sofrido violência se encontrou pensando o que diria aos pais caso tivesse que contar que havia estado em um encontro de lésbicas. Durante o papo, o grupo compreendeu também que esconder-se atrás do outro também é uma forma de violência, rasteira e silenciosa. E a oficina também outra característica: a de ser mulher. “Ser mulher é postura, é conduta. É como você se coloca no mundo”, opinou Irina.


De encerramento das atividades do sábado as participantes cantaram músicas famosas ao som do violão de Simone Magalhães, e até um som inédito de autoria da cantora. Mas o Sepale ainda não havia acabado...

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